sexta-feira, fevereiro 24, 2006
302. "AURORA" EM SANTA COMBA DÃO
Obrigado! Isto era impensável há uns tempos atrás.
A Escola passa completamente ao lado do cinema. Em nenhum ano, em nenhuma disciplina se fala da história do cinema. Os alunos entram na Universidade sem saberem nada de cinema. Há tretas de matérias, completamente desligadas do dia-a-dia, que são estudadas até à exaustão. Como é isto possível?
Por outro lado, como é possivel que ainda existam pessoas, como as da COMUM - Rede Cultural, que teimem em nos oferecer estas preciosidades? Assim, de mão beijada.
O resto, à falta da Escola, compete à equipa da Casa da Cultura e da Autarquia fazer.
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
301. MANUSCRITO DE "O GUARDADOR DE REBANHOS"
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
300. NO SILÊNCIO DA NOITE
Há pouco, ao calor da lareira, falámos de Belmiro de Azevedo, da OPA sobre a Portugal Telecom, dos tempos difíceis que esperam os jovens, da precariedade do emprego, dos dramas que isso acarreta, etc.
Nós temos na nossa cozinha uma lareira verdadeira, onde se fumaram muitas chouriças, morcelas e farinheiras e onde colocamos lenha verdadeira a arder, que enche de luz e calor o espaço envolvente.
Dissemos aos nossos filhos que o Homem não veio ao mundo para ser escravo do trabalho. Como dizia o Professor Agostinho da Silva o Homem veio ao mundo para ser feliz e ter prazer.
Por isso gostaríamos que os nossos filhos fossem construindo a sua autonomia em relação ao mundo capitalista e escravizador em que vivemos. Gostaríamos que eles nunca viessem chorar para a televisão por terem perdido o emprego e encarassem esse facto, se possível, como uma libertação.
Contámos-lhe como fomos criados e se vivia somente com o produto da terra. A Terra-Mãe é a mesma e está sempre pronta a fornecer-nos o essencial para a nossa vida. Pouco mais precisamos. É preciso que, independentemente da profissão que venhamos a desempenhar, conheçamos como a trabalhar para que ela nos possa tornar autónomos.
terça-feira, fevereiro 07, 2006
299. OS CÃES DA TIA DOROTEIA
O almocreve assentou duas vigorosas pancadas no sólido portão de castanho, diante do qual tinham parado.
As primeiras vozes, a responder-lhe, foram as de dois cães, que acudiram de longe ao sinal e vieram ladrar à porta com uma fúria, que fez agourar mal a Henrique da cordialidade da recepção que o esperava. De facto as intenções dos quadrúpedes não pareciam demasiado hospitaleiras. O almocreve divertia-se excitando-os de fora com uma vara de vime, apesar de quantas recomendações de prudência lhe fazia Henrique, não em demasia sossegado.
Afinal ouviu-se uma voz áspera e rouca, chamando os cães à ordem, se é lícito, sem irreverência, empregar neste caso a frase consagrada para outro género de algazarra.
Henrique ouviu rodar a chave, correr os ferrolhos, levantar a aldraba, gemerem os gonzos, e enfim um homem de lavoura, alto e magro, trazendo em punho um lampião de froixíssima luz, apareceu-lhes à porta e saudou-os com a fórmula de estilo:
- Ora Nosso Senhor lhes dê muito boas noites.
E, levantando a luz à altura do rosto de Henrique, pôs-se a mirá-lo com a menos cerimoniosa curiosidade.
- É o sobrinho cá da senhora, não é verdade?
- Sou eu mesmo.
- Está um tempo mais azedo. Eu já julgava que não vinham. Entre.
Henrique não se resolvia a aceitar o convite, porque lhe continuavam a impor respeito os olhares ferinos e os rugidos surdos, dos dois façanhosos quadrúpedes, cuja má vontade era a custo refreada.
- Entre, entre - insistia o homem.
- Mas esses animalejos?...
-Ah! isto não faz mal. Sai-te para lá, Lobo; passa Tirano!
- Lobo! Tirano! Que nomes! E dizia o homem que não faziam mal!
- C'os diabos! ti Manuel - disse o almocreve - em ocasião de se esperarem hóspedes, não se soltam assim os cães. Os diabos não são nenhuns cordeiros. Olhe no outro dia o snr. Joãozinho das Perdizes, que por pouco lhes deixava nos dentes as barrigas das pernas.
- Forte perca! - resmoneou o outro. - Não trouxesse cá os dele. Não tem dúvida; entre o senhor, que eles não lhe fazem mal.
- Não entro; assim não entro - teimou Henrique, a quem as palavras do almocreve acabaram de fortificar na sua resolução.
O homem, em vista disto, encolheu os ombros e bradou:
- Ó Luís!
Uma criança de cinco anos, e quase nua, correu ao chamamento.
- Enxota para lá esses cães, que aqui o senhor tem medo.
Júlio Dinis (1839-1871)- A Morgadinha dos Canaviais, págs. 16-17, Livraria Civilização, Porto, 1954.