sábado, outubro 25, 2003

053. DUAS FIGURAS ILUSTRES ESQUECIDAS NO CEMITÉRIO DE S. JOÃO DE AREIAS 

O Dia de Finados aproxima-se e, mais uma vez, por entre as campas cuidadas do cemitério de S. João de Areias, uma sepultura brasonada ficará ao abandono e uma pesada pedra tumular ficará esquecida a um canto.
É assim, com total esquecimento e ingratidão, que pagamos a duas figuras ilustres da nossa freguesia.
Nasceram ambas na Guarita, na década de 80 do século XVIII e ainda eram parentes - a sepultura brasonada é do Dr. Manuel de Serpa Machado, da Quinta da Guarita; a pedra tumular assinalava (tanto quanto conseguimos ler no epitáfio), a sepultura de António Saraiva de Carvalho, irmão do célebre político José da Silva Carvalho.
O Manuel nasceu em 1784 e o António um ano depois. Tiveram destinos diferentes estes jovens da Guarita.
Manuel de Serpa Machado nasceu no seio da nobre família dos Serpa e passada a infância e parte da adolescência no ambiente acolhedor do seu Solar e da sua Quinta, partiu para Coimbra para estudar Leis, onde aliás já se encontrava o seu irmão Francisco e o vizinho e parente José da Silva Carvalho.
António Saraiva de Carvalho viu-os partir a todos, mas ficará pela Guarita. Ao seu irmão José, mais velho, os pais e principalmente a sua tia Teresa Dias, de Vila Deanteira (em casa de quem nascera), pagaram os estudos, mas foi impossível dar uma formação superior a ambos e assim o António foi preterido.
Entretanto em Coimbra todos se formaram em Leis - o Francisco, o Manuel e ainda o José. Esperava-os um futuro grande e nobre. Portugal, como estado moderno, muito lhes deve.
O Dr. Manuel de Serpa Machado tornou-se professor da Universidade e nela foi ocupando diversos cargos até que com a Revolução de 1820, preparada e levada a efeito pelo Dr. José da Silva Carvalho, foi eleito deputado às Cortes, onde desempenhou um papel que infelizmente ainda só ao de leve foi estudado.
António Saraiva de Carvalho, apesar de o destino não o ter escolhido para ir ouvir as lições dos mestres de Coimbra, não deixou de se cultivar e tornou-se uma das figuras importantes a nível local, ocupando os cargos de Capitão de uma das Ordenanças (as milícias concelhias) e de Juiz Ordinário e das Sisas do concelho de S. João de Areias (sendo por isso o responsável pela administração da justiça local e em conjunto com os outros membros da câmara competia-lhe a administração e a regulação da vida económica do concelho).
O António era mais calmo e menos revolucionário do que o irmão José, no entanto, também ele se apercebeu que Portugal tinha de mudar e aliou-se ao liberalismo e por isso, muito sofreu aquando do triunfo temporário do miguelismo, sendo mesmo preso (com outros naturais da freguesia) na Cadeia Principal de Almeida. O seu irmão, o Dr. José da Silva Carvalho, para salvar a vida foi obrigado a partir para o exílio em Inglaterra, e, o Dr. Manuel de Serpa Machado foi demitido da Universidade e desterrado para Viseu e Castelo Rodrigo onde ficou sob prisão domiciliária.
Este foi um tempo de obscurantismo e de estupidez. O Dr. José da Silva Carvalho regressou ao Reino em 1832 ao lado do futuro D. Pedro IV, libertou Portugal da opressão miguelista e trouxe a liberdade aos seus amigos.
O Dr. Manuel de Serpa Machado foi então readmitido como lente da Faculdade e mais tarde, depois de ocupar vários cargos de prestígio na Universidade de Coimbra, foi agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, eleito senador e em 1842 nomeado Par do Reino pela Rainha.
O António depois de sair da prisão foi eleito Provedor do Concelho de S. João de Areias, Juiz da Paz e ocupou vários outros cargos a nível judicial, administrativo e religioso; e, depois de ser o depositário da "custódia, vaso sagrado, dois cálices e patenas competentes e colheres tudo em prata" da Igreja Matriz (em tempo de roubos às igrejas), é também ele eleito Deputado e nomeado Comendador.
Das quatro personagens aqui referidas a primeira a falecer foi o Dr. Francisco de Serpa Saraiva, com o título de 1.º Barão de S. João de Areias, e foi enterrado na capela do seu Solar da Guarita, como assinala a sua bonita pedra tumular; o segundo foi o Dr. José da Silva Carvalho a 5 de Setembro de 1856 e foi enterrado no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, depois de ter sido ministro de D. João VI, de D. Pedro IV e de D.ª Maria II.
A sepultura do Barão deixou há poucos anos de estar à guarda dos seus descendentes, mas está ao cuidado de pessoa esclarecida. A sepultura do Dr. José da Silva Carvalho está ao cuidado da Câmara Municipal de Lisboa e consta no Circuito de Visita ao Cemitério dos Prazeres, no sector das figuras ilustres de Portugal.
Os outros dois escolheram mal a terra para serem enterrados. O Dr. Manuel de Serpa Machado morreu a 2 de Agosto de 1858 e o António Saraiva de Carvalho a 19 de Outubro de 1859 e foram enterrados no cemitério de S. João de Areias.
Tiveram a desdita de quererem vir repousar na freguesia que os viu nascer, e, se julgavam nela poderem descansar em paz e verem o seu nome reconhecido e acarinhado, enganaram-se:
- o Dr. Manuel de Serpa Machado tem a sua elegante pedra tumular partida, por entre as fendas da qual crescem ervas;
- o António (lembram-se que dos quatro foi o preterido... o que ficou na Guarita...), mesmo depois da morte, teve uma sorte mais madrasta - resta-lhe a pedra, já que até os poucos palmos de terra que lhe foram atribuídos para repousar eternamente, lhe retiraram, a ele que poucos anos antes de falecer, tanto se teria interessado pela construção do cemitério de S. João de Areias...
Desculpem o tamanho do post, mas esta história é dedicada a todos nós... para meditarmos.

sexta-feira, outubro 24, 2003

052. 1.º PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 




Um amigo enviou-me este postal dos CTT.
Estou todo vaidoso!
O postal homenageia o Supremo Tribunal de Justiça e os "170 anos de Separação de Poderes em Portugal".
Bem... não venho falar do que já estão a pensar(!), mas de quem é o rosto destas comemorações...
E quem é, quem é?
Uma personalidade nascida em 1782 na minha aldeia, a poucos metros da minha casa e vizinho do "meu vizinho" S. Silvestre - José da Silva Carvalho.
Foi o 1.º Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Já falei nele no post n.º 26 e muito ainda hei-de falar.
Quem me enviou o postal foi um seu trineto. Muito obrigado!

quinta-feira, outubro 23, 2003

051. A MINHA BLOGOSFERA 

Sinto-me bem na comunidade dos blogues.
É um universo de pessoas que me enriquece diariamente. Chegam ao meu vale, à minha casa, vindas das mais variadas paragens, disponíveis para me ensinarem coisas e não me cobram nada.
É hora de agradecer aos blogues em geral e aos da minha blogosfera em particular. Agradeço-vos o que me ensinam sobre Artes Plásticas, Música, Fotografia, Cinema, Literatura, Poesia e sobre a "nossa vidinha" do dia-a-dia. Mas onde estava toda esta boa gente?
Um pequenino destaque para o "Blogue dos Marretas". Foi o primeiro blogue que vi. Os seus autores são "meus conhecidos" de há longa data, uma vez que leio religiosamente as suas crónicas no jornal "O Interior" (bem como a de Diogo Cabrita), onde pela primeira vez ouvi falar em blogues; já agora, parabéns para o director de "O Interior", Luís Baptista-Martins e obrigado pelo jornal.
Atingir 1000 visitantes é para nós uma festa. Caseira, naturalmente...
Obrigado a A Natureza do Mal, ao Crítico, à Janela Indiscreta, ao Retorta, à Santa Ignorância, ao Tempo Dual, a A Criatura e a Moça e ao Pensar Enlouquece pelo link para "Vila Dianteira". Generosidade pura!
Obrigado a todos os que por aqui passam! Chegam de diversas zonas do Mundo!
Digam alguma coisa...

quarta-feira, outubro 22, 2003

050. 1000! 

Sem comentários! Obrigado pela visita!


segunda-feira, outubro 20, 2003

049. TEXTO DE MANUEL MOZOS A PROPÓSITO DE "XAVIER" 

Aqui vos deixo um texto de Manuel Mozos, escrito para a estreia de "Xavier" em Castelo de Vide:

"Tenho o mau hábito de não ser pontual, mas eu próprio não supunha chegar tão atrasado. Peço desculpa e agradeço a vossa paciência, sobretudo aos actores e aos técnicos que trabalharam no filme e esperaram por ele durante estes 12 anos.

Muita coisa se passou no Mundo. E no cinema também. Por isso o filme possa parecer anacrónico. Mas para mim sempre foi importante vê-lo acabado e finalmente poder ser visto. Aqui está, tal como foi possível.

Poderia escrever muita coisa sobre todo o processo, mas melhor ou pior, já são coisas conhecidas e hoje, a poucas horas da sua exibição pública, confesso o meu cansaço e não vou escrever muito mais.

Muito obrigado a todos os que acreditaram neste XAVIER - "There was a naughty boy...".

E ficai com um poema, para beber com um whisky. Se possível com 12 anos
".

Manuel Mozos


PRÍNCIPE DA AQUITANIA, EN SU TORRE ABOLIDA

Una clara conciencia de lo que ai perdido,
Es lo que le consuela. Se levanta
Cada mañana a fallecer, discurre por estancias
En donde sordamente duele el tiempo
Que se detuvo, la herida mal cerrada.
Dura en ningún lugar este otro mundo,
Y vuelve por la noche en las paradas
Del sueño fatigoso... Reino suyo
Dorado, cuántas veces
Por él pregunta en la mitad del dia,
Con el temor de olvidar algo!
Las horas, largo viaje desabrido.
La historia es un instante preferido,
Un tesoro en imágenes, que él guarda
Para su necesaria consulta con la muerte.
Y el final de la historia es esta pausa.

(Jaime Gil de Biedma)

sábado, outubro 18, 2003

048. PARABÉNS AO PAPA 

O Papa faz vinte e cinco anos de pontificado. Em 1982 estive em Coimbra no encontro do Papa com os estudantes e em 1991 estive no Estádio do Restelo. Gosto deste homem!

sexta-feira, outubro 17, 2003

047. "XAVIER" DE MANUEL MOZOS (Actualizado) 

Estreia hoje, "Xavier", de Manuel Mozos.


É um filme sofrido para o seu realizador.
Azares, erros de produção e incompreensões várias fizeram com que a rodagem fosse interrompida no penúltimo dia. Ficou por rodar o que corresponderia aos cinco minutos finais de "Xavier".
Vi o filme há 10 anos, no início da montagem. Vivia-se uma fase de impasse. A sua finalização arrastou-se entre 1991 e 2002 e só terminou graças a uma mãozinha de Paulo Rocha, cineasta e uma alma grande.
Hoje, estou muito feliz por saber que vai chegar às salas de cinema.
É um belo filme. Segue um rapaz, sem pai e com a mãe internada num manicómio, no seu percurso iniciático de passagem da adolescência e entrada na vida adulta. Os actores foram muito bem escolhidos e encarnam admiravelmente as personagens. Uma sensibilidade própria perpassa por todo o filme.



Manuel Mozos tem 44 anos, estudou História e Filosofia, formou-se em Montagem pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e estagiou no SEC de Paris; foi o responsável pela montagem de vários filmes e realizou em 1989, "Um Passo, Outro Passo e Depois...", em 1991 a sua primeira longa-metragem, "Xavier", em 1999 a sua segunda longa-metragem "...Quando Troveja" (que ironicamente se estreou antes de "Xavier"); realizou também vários documentários e videoclips.

"Xavier" só poderá ser visto em Lisboa e no Porto.
Coimbra, capital da cultura, ainda está longe de obras como esta!
Atenção Cineclube de Viseu, ficamos à espera da estreia de "Xavier" na nossa sede de distrito...
À comunidade bloguista deixo a sugestão para verem este filme.

terça-feira, outubro 14, 2003

046. O RAPAZ, O SOLDADO E O MAR 



"A dor obriga-o a parar de vez em quando. Mantém-se lúcido, o seu único desejo é voltar para casa, para junto da mãe. O herói de há pouco não passa agora de uma criança ansiosa pelas carícias, pelos beijos, pelo sorriso, pela ternura da mãe. Ao longe, os Alemães correm de um lado para o outro. Quando os sente perto, deita-se no chão e meio inconsciente repete:
- Perdão, mãezinha; eu só quis lutar como os homens.
Geme, levanta-se, continua. Adivinha ao longe o tecto familiar da sua casa. O desejo de chegar, dá-lhe novas forças. Vai lançar-se para a frente, às cegas, indiferente ao perigo, quando uma silhueta sombria surge na sua frente. Um grito de desespero morre-lhe na garganta. Ouve murmurar:
- Sou eu, Mari-Té (...).
Mari-Té deita-se a seu lado e levanta-lhe a cabeça.
Pedro geme:
- Os Alemães feriram-me. Se soubesses como dói. Quero ir para casa, quero a minha mãe
".

Uma vez por mês, a garotada da minha terra corria para a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, que parava no Largo do Chafariz, em S. João de Areias.
Foi desse modo que li pela primeira vez "O Rapaz, o Soldado e o Mar", de Georges Fonvilliers, publicado pela antiga Editorial Aster.
Este foi um dos primeiros livros que me marcou. Muitos se seguiram.
Sinto que o que sou hoje se deve em parte a alguns livros que li.
Alguns amigos meus saltaram por cima de um certo tipo de literatura que eu adorei. Nunca, no entanto, achei que essa literatura lhes tivesse feito falta.
Há momentos em que eu penso que perdi algum tempo. Mas, ainda hoje, quando estou chateado é a esses livros que recorro.

domingo, outubro 12, 2003

045. "JOHNNY GUITAR" E OS MEUS FILHOS 

Há dias que os meus filhos me andavam a pedir para lhes mostrar um western.
Nunca tinham visto nenhum.
Eu da idade deles também poucos teria visto, mas brincava quase todos os dias aos cowboys com a garotada cá da terra e não me escapava um desses livrinhos de banda desenhada que circulavam entre nós.
Os meus filhos mal têm a ideia do que são cowboys e desconhecem todo o resto com eles relacionado. O imaginário deles é outro.
A escolha de um western era pois uma tarefa complicada. Para mais a idade dos meus filhos situa-se entre os 5 e os 9 anos!
O John Ford veio-me logo à lembrança. Acontece que uma boa parte dos meus filmes são em vídeo e estão em péssimo estado. A fita, em alguns, até bolor ganhou! E os Johns Fords foram os mais atingidos.
Estava eu neste dilema quando me surgiu à mão o "Johnny Guitar" de Nicholas Ray.
E se eu lhes mostrasse o "Johnny Guitar"?
Dito e feito. Ambiente criado e toca de passar o filme. De soslaio olhava para eles... nem pestanejavam.
Os mais novos, de quando em quando, pediam-me para lhes ler os diálogos, aliás dos mais belos da história do cinema.
No final, a aposta foi ganha. Gostaram muito.
Mas qual será a percepção que lhes ficou do filme? Será que eles se aperceberam do famoso diálogo entre Guitar e Viena quando ele lhe pede para ela lhe dizer alguma coisa bonita, mesmo mentindo?
- Diz-me que estiveste todos estes anos à minha espera.
- Todos estes anos estive à tua espera.
- Diz-me que morrias se eu não voltasse.
- Morria se tu não voltasses.
- Diz-me que gostas de mim como eu gosto de ti.
- Gosto de ti como tu gostas de mim.

Está combinado... depois do jantar falaremos sobre o filme.

sábado, outubro 11, 2003

045. OMISSÃO DE S. JOÃO DE AREIAS NA "HISTÓRIA RELIGIOSA DE PORTUGAL" 

Na "História Religiosa de Portugal", coordenada pelo Prof. Doutor Carlos Moreira Azevedo, vol. 1, pág. 171, edição do Círculo de Leitores (2000), omite-se S. João de Areias entre as freguesias medievais.
É, com certeza, uma gralha.
A lista das freguesias medievais apresentada na obra, baseia-se na Lista de Igrejas elaborada em 1320-1321, no tempo de D. Dinis. A existência de uma Igreja implicaria a existência de uma freguesia, isto é, de um conjunto de fregueses.
Ora a Lista de 1320-1321, na secção relativa ao Bispado de Viseu e Arciprestado de Besteiros, regista a Igreja de S. João de Areias e a taxa à qual estava sujeita - 120 libras, valor bastante elevado a nível do bispado e demonstrativo da importância da nossa freguesia no século XIV.
Daí o convite a todos leitores da obra para corrigirem esta falta. Para nós é importante.
Ficamos tristes quando nos omitem.

quinta-feira, outubro 09, 2003

044. NO SILÊNCIO DA NOITE 

Leio "Um Adeus Português" de Alexandre O´Neil

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à virgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal


Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

*

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é do teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

(Alexandre O´Neil, Poesias Completas 1951/1986, 3.ª edição, INCM, 1990; NOTA: o texto a bold é da minha responsabilidade)

terça-feira, outubro 07, 2003

043. A INCOMPREENSÍVEL FALTA DE ESTUDOS SOBRE CRISTÓVÃO DE FIGUEIREDO 



A última vez que fui ao Museu Nacional de Arte Antiga fiquei paralisado em frente desta fabulosa "Deposição no Túmulo".
Terá pertencido ao Retábulo de Santa Cruz de Coimbra e terá sido pintada por Cristóvão de Figueiredo. Terá.
Já a conhecia, é provável que já a tivesse visto "ao vivo", mas não me lembrava dela...
Não me tinha tocado antes como nesse dia. As paixões surgem assim.
Cristo é depositado no túmulo por Nicodemos e por José de Arimateia. Madalena segura a coroa de espinhos. Por detrás assistem as santas mulheres, a Virgem e S. João Evangelista. Mais afastados, no lado direito, duas figuras observam. Deverão ser os doadores, os que mandaram executar a obra. Não foram ainda identificados.
A Doutora Dalila Rodrigues salienta sobre a "Deposição no Túmulo" o rigor normativo da composição "...onde cada figura, cada forma, parece ter sido meticulosamente concebida em função da unidade orgânica do conjunto" (H. da Arte Portuguesa, vol II, pág. 296, Círculo de Leitores, 1995).
Mete-me impressão o desconhecimento que temos da nossa história de arte. Tanto para investigar!
Tanto tempo perdido com coisas desinteressantes!
NOTA: A imagem não reproduz na íntegra a pintura.
A fotografia é de José Pessoa.

domingo, outubro 05, 2003

042. JANTAR DE CURSO 

Uma colega telefonou-me para combinar um jantar de curso.
Já passaram uns anos... Nunca nos encontrámos. Sabemos uns dos outros por interpostas pessoas.
Ganhámos dinheiro (alguns, como eu, sobreviviam à custa de bolsas de estudo), namorámos muito, viajámos, tirámos outros cursos, mestrados, doutoramentos, escrevemos livros, casámos (penso que quase todos!), tivemos filhos, ficámos com cabelos brancos, outros quase carecas, a barriga cresceu...
Enfim. Mansamente atingimos a idade da relatividade.
Para alguns de nós, os nossos pais já faleceram. Temos de buscar uma nova cintura de protecção.
Vamos a isso!

041. TERMINEI A FAINA DO VINHO  

Já tenho o meu vinho nos pipos. Tinto e branco.
Confirmou-se a previsão - a produção foi boa e o vinho é excelente.
O mesmo aconteceu com os meus vizinhos.
Vai ser um ano alegre e agitado aqui por estes lados!

sexta-feira, outubro 03, 2003

040. MEMÓRIA DOS MEUS ANTEPASSADOS 



Estas sepulturas comovem-me.
Nos passeios a pé com os meus filhos vamos sempre visitá-las.
Aqui repousaram os nossos antepassados.
Mãe e filho? Talvez. Mas quem eram? Como viviam? São as perguntas que fazemos enquanto as olhamos.
A vida foi-se há muito, talvez entre o século VIII e o X. A memória persiste, por enquanto...
E nós, que rasto deixaremos?

quinta-feira, outubro 02, 2003

039. PARABÉNS "RITORNELLO" 

O "Ritornello" da RDP-Antena 2 está neste momento a fazer 8 anos!
É um programa de Jorge Rodrigues e de Edite Sombreireiro.
Agradeço-vos do fundo do coração os bons momentos que tenho passado convosco.
Sempre de 2.ª a 6.ª das 18 às 20 horas! Não percam!

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