segunda-feira, julho 25, 2005

273. "POEMAS QUOTIDIANOS" de António Reis 

Mudamos esta noite

E como tu
eu penso no fogão a lenha
e nos colchões

onde levar as plantas

e como disfarçar os móveis velhos

Mudamos esta noite
e não sabíamos que os mortos ainda aqui viviam

e que os filhos dormem sempre
nos quartos onde nascem

Vai descendo tu

Eu só quero ouvir os meus passos
nas salas vazias


António Reis - Poemas Quotidianos, Portugália (col. «Poetas de Hoje»), Lisboa, 1967

Nos últimos dias temos lido e dito, aqui em casa, os poemas de António Reis. Hoje, enquanto trabalhamos em arranjos de construção cívil, dizemos: "Eu só quero ouvir os meus passos / nas salas vazias". É um poema fabuloso que reflecte "a dor insuportável da perda de um lugar que foi testemunha da vida e da morte". A nós não nos custa compreender isto, porque a nossa casa é, há séculos, testemunha da nossa família, e o nosso afastamento dela só se compreende se for temporário, e mesmo assim teremos depois de compensá-la com conversas e carinhos.

"O realismo intimista de António Reis fixa-se essencialmente nos pequenos dramas e nas alegrias discretas da vida conjugal. É uma poesia em que tudo tende a girar à volta de um «eu», de um «tu» e do «nós» que se gera no espaço de comunhão, partilha a cumplicidade entre o «eu» e o «tu». A comoção, o sobressalto líricos nascem, para o sujeito, não dos grandes eventos, mas do que de mais simples, trivial há numa vida em comum" (Fernando J. B. Martinho - "Pequenos dramas e alegrias discretas", in JL, pág. 7, 17 de Setembro de 1991).


sábado, julho 23, 2005

272. SEI AO CHEGAR A CASA 

Sei
ao chegar a casa
qual de nós
voltou primeiro do emprego

Tu
se o ar é fresco

eu
se deixo de respirar
subitamente


António Reis - Novos Poemas Quotidianos, pág. 15, Porto, [1959].


quinta-feira, julho 21, 2005

271. NOTÍCIAS CÁ DE CASA... 

As arrumações continuam. Quilos e quilos de jornais (dezenas largas de JLs, salvei meia dúzia!), de panfletos do tempo de Coimbra (têm piada a esta distância os programas das diferentes listas concorrentes à AAC), de fotocópias de apontamentos e de livros sugeridos na bibliografia das cadeiras, de registos pessoais... para reciclar. "Só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus" (Caeiro, Alberto - "Poemas"). Ou, dito de outra forma, não quero deixar mais esse trabalho aos meus filhos...
A actualização do blogue de homenagem a António Reis continua... quase diariamente. "Todos os que gostavam do Reis estavam muito dependentes dele, e ele, por sua vez, muito dependente de alguns aspectos nossos - a juventude, o conhecimento que tínhamos da música... Por exemplo, as letras das canções, como as dos Clash, tinham bastante a ver com a poesia dele, isto é, a poesia do quotidiano. Era bonito. Pessoas muito dependentes, muito fortes e muito fracas, que não precisam de ninguém e precisam de tudo - que estão sempre sozinhas. O Reis sempre esteve sozinho. Imensamente solitário" [Pedro Costa, realizador de "O Sangue", in Moutinho, Anabela; Lobo, Maria da Graça (org.) - "António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra", pág. 67, Cineclube de Faro, Faro, 1997].
Pela noite dentro, decorre aqui em casa, o Ciclo John Ford. Ontem vimos "The Searchers" (1956) e foi um êxito entre os meus filhos; no final... pediram que nos deitássemos um pouco com eles! Hoje estamos a ver "The Sun Shines Bright" (1953); a adesão é menor, talvez melhore mais para o final.


terça-feira, julho 19, 2005

270. 2 ANOS!!! 

O dia de hoje foi passado em arrumações... quase não nos lembrávamos do aniversário. É verdade... há dois anos que o nome da minha aldeia corre mundo!


sábado, julho 16, 2005

269. A SOLIDÃO DO ARTISTA 

"Solitário, é como acaba sempre todo o verdadeiro artista. António Reis isolou-se com a companheira e a filha num privilegiado recolhimento, aconchegando-se ao seu cantinho de afectividade e de criatividade.
Mas amava o mundo, sem o qual não poderia fazer filmes, ou escrever versos, e procurava uma noção de justiça que julgava ao alcance da mão humana
".

Manuel de Oliveira - "Sobre António Reis", in A Grande Ilusão, n.º 13/14 (Out. 91 a Mai. 92), pág. 6-7, Edições Afrontamento, Porto, 1992.


quinta-feira, julho 07, 2005

268. "QUANDO TROVEJA", RTP 2, 1:00 HORA 



O filme de Manuel Mozos, "QUANDO TROVEJA", é exibido hoje na Dois (RTP 2), à 1 hora da manhã.

"Uma insólita história de enganos amorosos num filme de Manuel Mozos premiado no Fantasporto.
A relação entre António e Ruth termina inesperadamente. Porém, a maior surpresa de António prende-se com o facto de Ruth o ter trocado por Pedro, o seu melhor amigo. Desesperado, António, deixa-se dominar pelas suas angústias e fantasmas, entrando num processo de auto-destruição. Mas, do bosque, surgem dois estranhos seres, Violeta e Gaspar, que o vão socorrer e, ao mesmo tempo, influenciar a vida de Ruth e Pedro. Quando começa a trovejar, os dois seres do bosque desaparecem para os seus misteriosos domínios.

Quando Troveja é a primeira longa-metragem de Manuel Mozos, antigo assistente, montador, documentarista e autor de videoclips. Trata-se de uma estranha e intrigante história de enganos e traições amorosas, atravessada por uma dimensão fantástica e onírica. Mozos constrói um filme invulgar, pleno de referências pessoais que lhe valeu um prémio no Fantasporto em 1999. Filmado em Lisboa, Sintra e Pampilhosa, Quando Troveja conta com Miguel Guilherme e José Wallenstein nos principais papéis
".

Retirado do site da Dois - RTP 2

A ver... e a gravar!


domingo, julho 03, 2005

267. NO SILÊNCIO DA NOITE 

Ouço uma raposa para os lados do Pinhal Manso.
As galinhas que se cuidem. Na semana passada causaram estragos na capoeira de uns nossos vizinhos.
Oh... Afinal, são duas raposas. Não tardam a chegar-se à aldeia.
Os cães já estão em alvoroço.
Vou chamar os meus filhos para as ouvirem.


sexta-feira, julho 01, 2005

266. NÃO ESTAMOS AQUI... 

Nos próximos dias não vamos estar aqui...
Estamos a actualizar o blogue António Reis.

Eu não voo
ando

quero que me oiçam.


                  António Reis

Vá até lá. Colabore connosco, corrigindo-nos e dando sugestões.


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